Seguir o coração pode ser uma roubada.
Alma gêmea é algo tão crível quanto os deuses do Olimpo. Escolher a profissão
que ama vira e mexe acaba em frustração. Conselhos desse tipo, comuns no amor,
no trabalho e no cotidiano, não funcionam, pois não levam em conta como o
cérebro e o corpo funcionam. Todos os dias disparamos e recebemos frases que
prometem ser soluções simples e diretas para problemas e dilemas do dia a dia.
"Pense positivo"? Sério? Para começar o ano novo bem de verdade, é
melhor evitar aquele que costuma ser o primeiro erro: exagerar nas
resoluções.
1. Vem chegando o verão, o ano novo e, com ele, aquela vontade de ser alguém
melhor, mais equilibrado, centrado, saudável. E aí tome resoluções para cá e
para lá. É normal. Faz parte do nosso ritual de réveillon. Mas esqueça isso.
Quanto mais decisões desse tipo tomarmos ao mesmo tempo, menor vai ser a chance
de que alguma delas dê certo. O psicólogo britânico Richard Wiseman acompanhou
mais de 3 mil pessoas que fizeram resoluções de Ano-Novo. No início, 52%
estavam confiantes de que teriam sucesso, mas, passado um ano, apenas 12%
atingiram seus objetivos. Pare e pense na última vez em que você fez alguma
resolução. Quantas deram certo? Quantas foram largadas no meio do caminho? Isso
ocorre porque nossa força de vontade funciona como um músculo: ela pode ser
exercitada para se fortalecer, mas, quando usada além do limite, entra em
fadiga. E para provar nosso limite de autocontrole não faltam experimentos
malucos. O pioneiro na área é Roy Baumeister, da Universidade Estadual da
Flórida, Estados Unidos. Ele pegou dois grupos de estudantes com fome e os
desafiou a resolver um quebra-cabeça. Ao primeiro grupo, o pesquisador exibiu
um biscoito de chocolate. Ao segundo, nada. As pessoas do segundo time dedicaram
20 minutos ao quebra-cabeça. Os que foram atiçados desistiram em oito minutos.
Em outra pesquisa, da Universidade Macquarie, da Austrália, observou-se que
estudantes em época de provas fumam mais, param de se exercitar, dobram o
consumo de cafeína, bebem mais álcool, gastam mais, comem mais porcaria, cuidam
menos de sua higiene - e, em vez de estudar mais, procuram passar mais tempo
com seus amigos. E aí, se identificou? A razão para isso, segundo Michael
Inzlicht, da Universidade de Toronto, Canadá, está em uma estrutura cerebral
chamada córtex cingulado anterior, envolvida na detecção de erros. Ela dá um
alarme quando você faz algo diferente do que você pretende fazer. Quando esse
sistema é usado demais, a capacidade de detectar erros se deteriora e você tem
mais dificuldade em controlar as reações. Fica difícil se conter. Então esqueça
aquele monte de promessas de réveillon, porque a lista enorme de metas não
funciona. A não ser que você queira mais um ano novo empurrando problemas
velhos com a barriga.
De cada 10 pessoas que fazem resolução de Ano-Novo, metade se sente confiante
de que vai chegar lá. Mas só uma realmente consegue.
O caminho certo
Quer que sua resolução funcione? Desista da lista enorme de promessas.
* Escolha uma meta de cada vez e procure começar imediatamente, em vez de
deixá-la para segunda-feira - ou para 2014.
* Foque em metas específicas, mensuráveis e com prazo estabelecido.
"Correr meia hora três vezes por semana" é melhor que "fazer
atividades físicas".
* Não encare um deslize como fracasso. Se você fumou durante um encontro com
amigos, você pisou na bola, mas não abortou o plano de largar o cigarro.
Relaxe.
2. Não vá para a cama no primeiro encontro
Um estudo da Universidade de Iowa, EUA, avaliou
640 relacionamentos e concluiu que quem transou de cara era menos satisfeito
que quem resolveu esperar. Mas, ao tirar do grupo os que não queriam nada muito
sério no relacionamento, a diferença sumiu. Tanto fazia quando começou o sexo.
A explicação, segundo Anthony Paik, autor do estudo, está nas intenções da
pessoa. A única vantagem em aguardar é peneirar quem não está disposto a nada
sério. Se ambos querem algo a mais, não há por que esperar. Porém, o problema
de focar tanto em arranjar namorado é que a pessoa pode cair no nosso sexto
conselho.
3. Procure sua alma gêmea
No início, os humanos tinham quatro pernas,
quatro mãos, duas faces, quatro orelhas, dois órgãos sexuais e eram fortes como
os deuses. Com receio que escalassem o céu para lutar contra eles, as
divindades pensaram em exterminá-los. Mas, se fizessem isso, não restaria quem
os idolatrasse. A solução foi, então, cortar os humanos em dois "como se
faz com os linguados", escreveu Platão em O Banquete. Desde então, os
humanos buscam sua alma gêmea, essa metade perdida. A bonita história da
mitologia grega traz uma ideia tão errada quanto popular - a de que
relacionamentos dão certo quando as pessoas são parecidas. Estudos identificam
que, de fato, casais tendem a compartilhar certas características, como posição
política, religião, condição social e valores. Mas talvez esses casais estejam
juntos não porque têm muito em comum, mas porque se conheceram em ambientes
onde certas características são compartilhadas, seja na igreja, faculdade,
trabalho ou bar. Porém, em um mesmo grupo há pessoas com personalidades
distintas, e mesmo assim elas podem se unir. A pergunta que vale, então, é
outra. Pessoas de personalidades parecidas desenvolvem relacionamentos
melhores? Alguns estudos concluem que sim. Outros dizem que os opostos se
atraem. E outros explicam que pessoas parecidas se dão bem a curto prazo, pois
se conectam com mais facilidade, mas não a longo prazo, já que personalidades
diferentes dividiriam melhor tarefas e evitariam o tédio. Bem, estudo tem de
monte. Mas um outro, da Universidade Humboldt, Alemanha, chama a atenção. Ele
analisou cem casais e concluiu que a resposta não está no parceiro, mas na
própria pessoa. Dos traços de personalidade, o que mais influiu foi
sociabilidade, a disposição a cooperar e resolver problemas. Outro fator que
conta é a qualidade da relação com amigos e parentes - gente satisfeita com
aqueles próximos também tem um relacionamento melhor. Em suma: compatibilidade
de amantes é algo superestimado. O que importa é como você é.
4. Não dê importância ao sexo
O amor nasce do desejo sexual, concluiu o
psicólogo Jim Pfaus, da Universidade Concórdia, Canadá. Ao analisar a atividade
cerebral de pessoas diante de imagens eróticas e de fotos dos parceiros, sua
equipe viu que os sentimentos ativam áreas diferentes de uma região chamada
corpo estriado. O desejo envolve uma parte ligada a estímulos instintivamente
prazerosos. Já o amor ativa uma área que liga esse prazer a um estímulo. Em
resumo, diz Pfaus, "amor é um hábito formado a partir do desejo sexual
conforme ele é recompensado". O sexo alimenta o amor. Helen Fisher,
antropóloga da Universidade de Rutgers, EUA, resume a história: "naso
pasyo, maya basyo". É um dito popular do Nepal que quer dizer "pênis
entrou, amor chegou". Sim, a versão nepalesa da famosa rima chula
brasileira. E a queda do desejo? Se antes o amor envolve uma atividade intensa
no mecanismo de recompensa, depois ele acalma. Quando essa atração louca
diminui, vem o que Fisher chama de "ligação", sentimento mediado pelos
hormônios vasopressina e ocitocina. Com o tempo, a importância do sexo cai. Mas
não deixa de existir.
5. Siga o seu coração
No início de um relacionamento, os altos níveis
do neurotransmissor dopamina, ligado ao prazer, fazem a atenção se focar nas
características positivas da pessoa, ignorando as negativas. Isso é agravado
pelo pensamento obsessivo causado pela queda de outra substância, a serotonina.
O resultado, segundo Helen Fisher, é ânsia, compulsão, distorção da realidade,
dependência física e emocional, mudança de personalidade e perda de
autocontrole. Piração total. Queremos loucamente alguém sem entender exatamente
quem ele é. Mas, como viver nas alturas consome tempo e energia demais para se
dedicar a outras atividades, esse período de novidade passa - em sete meses,
segundo Fisher, ou em pouco mais de dois anos, segundo Andreas Bartels, da
University College de Londres. Com a paixão indo embora, a atenção se volta às
incompatibilidades antes ignoradas. E aí podemos seguir o coração e buscar de
novo aquele delicioso frio na barriga. Assim, seguir o coração pode levar a um
ciclo de príncipes encantados que viram sapos. É por isso que todo mundo tem um
conhecido que está sempre de namoro novo. Essa falta de pé no chão prejudica as
chances de construir uma relação mais estável. Não que isso seja obrigatório.
Longe disso. Veja mais abaixo.
6. Arrume um namorado
Há bons motivos para alguém evitar um
relacionamento estável - sonhos mais individuais, estabilidade financeira antes
de ter filhos etc. Isso não significa que tais pessoas sejam solitárias, como
verificou um estudo da Universidade Cornell, EUA. Os pesquisadores pediram a
2,7 mil solteiros que avaliassem seu contato com pais e amigos. Após seis anos,
repetiram a pergunta. Quem casou se distanciou da família e dos amigos. Estavam
casados, tinham companhia, mas ao mesmo tempo se isolaram - o que não aconteceu
com os solteiros. Outro estudo feito em seis países com pessoas de 65 anos
concluiu que, enquanto homens solteiros de fato acabam com uma rede de apoio
mais restrita que os casados, com as mulheres é o contrário. Sem marido ou
filhos, solteiras se preparam ao longo da vida para evitar a solidão mantendo
contato com parentes e amigos. Já as casadas se dedicam a marido e filhos, que
nem sempre mantêm contato no futuro. Ser solteiro não significa ser solitário.
Na verdade, muitas vezes pode ser o contrário.
7. Escolha uma profissão que você ame
Em 2005, Steve Jobs defendeu, em seu famoso
discurso a formandos da Universidade Stanford, EUA, que eles fizessem algo que
amassem. "Se não tiverem encontrado, continuem procurando", disse.
Mas se o jovem Steve tivesse seguido seu próprio conselho, provavelmente
acabaria como um dos melhores professores do centro espiritual Zen de Los
Altos, afirma Cal Newport, autor do livro So Good They Can't Ignore You
("tão bom que não podem ignorá-lo", sem versão no Brasil). Na
faculdade, seu interesse não eram os negócios nem a eletrônica, mas história e
misticismo oriental. Em pouco tempo, Jobs abandonou os estudos, foi para um
templo hare-krishna, fez retiro espiritual na Índia. Isso tudo influenciaria
sua maneira de ver o mundo e de conduzir a Apple, claro, mas a empresa não
brotou dessa sua paixão. Ela nasceu da sorte de montar com um amigo
talentosíssimo, Steve Wozniak, um esquema de montagem de placas de circuito que
funcionou e decolou graças ao estilo visionário e vendedor de Jobs. O fato é
que, exceto o caso dos poucos que nasceram para a coisa certa, para os demais
esse conselho não vale nada - e por vários motivos. Ainda que você admire uma
profissão, isso não significa que tenha talento para ela, nem que na prática
ela seja do jeito que você imagina ou que ela vá trazer boas oportunidades
profissionais. Muitos agrônomos acabam atuando como vendedores de agrotóxicos,
arquitetos fazem mais reforma do que projetos bacanas, fotógrafos registram
mais imagens para cardápios do que para editoriais de moda, engenheiros não
constroem nada além de planilhas. "O início de uma carreira fantástica
pode não parecer nada fantástico", diz Newport. "Essa realidade bate
de frente com um mundo fantasioso em que existe um trabalho perfeito, que você
amará logo de início". Aí mora o problema. A busca pela paixão no que faz
pode levar a uma desilusão precoce. Pulando fora cedo, não dá tempo para
desenvolver habilidades e ficar bom naquilo. Sem se tornar bom, as chances de
brotar uma possível paixão pelo trabalho vão pelo ralo.
8. Não fique com gente do trabalho
O caminho mais comum para começar um
relacionamento é se apaixonar por um colega - seja de estudos, seja de trabalho
-, concluiu uma pesquisa do psicólogo Ailton Amélio, da USP. E há boas razões
para isso. Um relacionamento não amoroso permite conhecer melhor um futuro
parceiro, seja para descobrir características que não se observam à primeira
vista, seja para derrubar a fachada que pessoas criam para parecerem o par
ideal. O convívio no trabalho ou na aula permite conhecer pessoas mais reais do
que em uma festa.
ONDE SURGE O AMOR
Em que situações um casal se forma.
37% - lugares onde pessoas já se conheciam (escola, faculdade, trabalho,
academia)
32% - intermédio de um conhecido em comum
20% - flertes com desconhecidos
6% - outras situações
4% - encontro acidental
1% - algum serviço de relacionamentos
Fonte: O Mapa do Amor, de Ailton Amélio
9. Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje
Trabalhar demais emburrece. Um estudo da
University College London com mais de 2 mil funcionários públicos ingleses
concluiu que, comparando testes de cognição feitos em um intervalo de cinco
anos, pessoas que trabalham mais de 11 horas por dia tiveram uma queda maior de
memória de curto e longo prazo, raciocínio abstrato, criatividade e solução de
problemas em relação a quem segue uma jornada de oito horas. Uma razão para isso
é que quem trabalha por muitas horas deixa de praticar outras atividades
importantes para a saúde mental. Mas o que fazer se a carga de trabalho for
muito grande? Bom, a resposta não está em quanto, mas em como se trabalha.
Passar muitas horas na labuta não é sinônimo de produtividade. Pode ser, na
verdade, o contrário. Workaholics trabalham mais não por produzirem mais e
melhor, mas porque precisam de mais tempo para produzir a mesma coisa, seja por
serem controladores que não conseguem trabalhar em equipe, seja por
estabelecerem expectativas irreais. Isso, segundo o psicoterapeuta Bryan
Robinson, autor de Chained to the Desk ("acorrentado à mesa", sem
versão para o Brasil), é um tiro no pé. "Eles criam estresse e desgaste
para si e para seus colegas, causando baixo estado de ânimo, falta de harmonia,
conflito interpessoal, baixa produtividade, perda de criatividade e de
cooperacão e absenteísmo por conta de doenças relacionadas ao estresse."
Quem é viciado em trabalho já sentiu isso. O melhor, portanto, não é fazer tudo
hoje, mas estabelecer prioridades, delegar tarefas - e não abrir mão de sua
vida. Só assim você estará 100% amanhã.
AS QUATRO FACES DOS WORKAHOLICS
O implacável
Não sabe dizer "não". Assume mil responsabilidades sem conseguir
priorizar o que importa nem delegar tarefas a outras pessoas. Com tanta coisa a
fazer em pouco tempo, acaba deixando passar muitos erros.
O bulímico
Por ter autoestima baixa, cria expectativas altas demais de como devem ser seus
resultados. Isso lhe dá medo de começar projetos e, quando começa, trabalha à
exaustão, extremamente preocupado com o risco de cometer erros.
O desatento
Tem prazer com muitas ideias e, assim, começa uma imensidão de projetos. Porém,
sente-se enfadado quando precisa levá-los adiante. Acaba fazendo tudo sem muito
empenho, pensando em outras coisas.
O degustador
Detalhes o preocupam tanto que ele acaba paralisado, reescrevendo a mesma
frase, rechecando algo. Como acha que ninguém será cuidadoso como ele, não
consegue passar o bastão. E aí, você se identificou com algum perfil?
Fonte: Chained to the Desk, Bryan Robinson
10. Seja mais extrovertido
Você quer crescer na sua carreira, mas acha que
é introvertido demais para ter um cargo de liderança? Balela. Embora esse tipo
de vaga tenda a favorecer personalidades dominantes e expansivas, líderes
extrovertidos têm uma fraqueza, segundo Adam Grant, professor de administração
da Universidade da Pensilvânia, EUA. Em ambientes com funcionários que tomam
mais iniciativa, eles se sentem ameaçados. Por isso tentam ser o centro das
atenções e podem empurrar decisões goela abaixo. Já líderes introvertidos
tendem a ouvir mais calmamente e a ser mais receptivos a sugestões quando o
time sob sua responsabilidade é mais assertivo.
11. Não perca tempo com fofoca
Nem toda fofoca é maliciosa. Quando consiste em
avisar sobre pessoas pouco confiáveis, ela promove a cooperação e desestimula o
comportamento antissocial. Foi o que concluiu uma série de experimentos da
Universidade de Berkeley, EUA, com 200 pessoas que participavam de jogos de
cooperação envolvendo dinheiro. Quando um participante via outro jogando por
interesse próprio, sentia-se frustrado e tinha os batimentos cardíacos
acelerados. Ao compartilhar isso com outras pessoas no jogo, sua frustração diminuía
e o batimento cardíaco desacelerava. E, de quebra, ele barrava estratégias
egoístas no jogo. Ou seja, espalhar que há alguém fazendo algo errado diminui a
ansiedade e melhora o sentimento de cooperação.
12. Curta o momento
Há uma razão simples para que sexta-feira seja
mais legal do que domingo - às vezes esperar por alguma coisa é melhor do que
experimentá-la. A razão básica é a dopamina (de novo ela). Quando recebemos o
sinal de que acontecerá algo prazeroso, é liberada em nosso cérebro uma dose de
dopamina - e assim sentimos prazer antes da recompensa. Feche os olhos e pense
agora no Carnaval chegando. Ou em outra coisa que dê prazer, se você não for do
Carnaval. Até aí, nada de novidade. Mas, segundo o neurocientista Robert
Sapolsky, de Stanford, estudos com macacos mostram que a dose de dopamina
atinge seu pico não quando há a certeza, mas quando há 50% de chance de que o
sinal leve à recompensa. É a razão por que uma partida do Brasil contra o Japão
é muito menos esperada do que uma contra a Espanha. Afinal, teoricamente, é
mais difícil saber se ganharemos da Espanha do que do Japão. Melhor do que
fazer é aguardar. E melhor do que aguardar é ter esperança. Torcedores que o
digam.
13. Siga a sua intuição
A ideia que rendeu ao psicólogo Daniel Kahneman
o prêmio Nobel de Economia em 2002 é simples: a mente funciona com dois
sistemas, um intuitivo e outro racional. E, contrariando o senso comum, quem
manda na maioria das nossas escolhas é a intuição. Isso porque, seja na savana
africana, seja em uma metrópole moderna, precisamos tomar muitas decisões em
muito pouco tempo. Se parássemos para pensar em cada problema, acabaríamos
mortos - ou por um leão ou por um carro. Afinal, o raciocínio precisa de tempo
e de informações que nem sempre estão à disposição - e em algumas situações não
podemos apenas dizer "não sei". Já a intuição oferece respostas
imediatas substituindo uma questão complexa pela associação mais próxima. O
problema é que isso nos leva a erros crassos. Imaginemos Bruno, um homem tímido
de 30 anos, organizado e detalhista. É mais provável que ele seja um camponês
ou um bibliotecário? Se levarmos em conta que o Brasil tem mais de 5 milhões de
estabelecimentos agrícolas e menos de 5 mil bibliotecas, a chance de ser
camponês é bem maior, certo? Mas a intuição diz o contrário - afinal, as
características de Bruno se encaixam perfeitamente no estereótipo de
bibliotecários. Bom, na vida encaramos dilemas bem mais relevantes do que a
profissão de Bruno - um pedido de demissão, outro de casamento, onde investir,
o que vestir... Quando você estiver diante de uma questão importante, o melhor
é deixar a intuição de lado e colocar a cabeça para funcionar. Porque ela é
cega, burra e medrosa.
Os cinco tópicos do erro
Por que a intuição pode passar a perna em nós.
1. Primeiras impressões
Por mais que se possa provar o contrário, elas ficam.
2. Estereótipos
A intuição se baliza por representações - se algo se encaixa no modelo de um
grupo, logo é parte dele.
3. Emoções
Quando uma opção traz medo (como voar de avião), ela parece ser mais perigosa
que uma alternativa de maior risco (como andar de carro).
4. Memória pessoal
Uma história bem contada é lembrada com mais facilidade, ainda que possa ser
fictícia ou pouco comum.
5. Coincidências
Duas coisas que acontecem juntas parecem ter uma relação de causa e efeito,
ainda que isso não seja verdade - tal como o frio e a gripe.
14. Pense positivo
Não precisa querer ser otimista - já somos
inatamente predispostos a isso. Só para ter ideia, em uma pesquisa feita nos
anos 80 com estudantes americanos, 93% se consideravam melhores motoristas do
que a média - ainda que seja impossível que a maioria das pessoas seja melhor
do que a maioria das pessoas. O problema é que nosso cérebro é bem seletivo na
hora de aprender fatos - ele codifica as informações desejáveis, mas não as
indesejáveis. Se ouvirmos falar do sucesso fortuito de Eike Batista, por
exemplo, pensaremos que isso também pode acontecer conosco - ignorando que as
condições que o levaram ao sucesso não são tão simplesmente reproduzíveis. Já
quando vemos informações negativas como taxas de risco de câncer, divórcio e
acidentes, não incorporamos essas informações - ou ao menos achamos que nosso
risco é menor. Quem acha, de verdade, que pode sofrer um grave acidente a
qualquer hora? A neurocientista Tali Sharot, da University College Londres,
pediu para que voluntários estimassem qual o risco de passarem por uma série de
eventos negativos - câncer, divórcio, demissão, pedra nos rins... Depois,
deu-lhes as estatísticas reais e perguntou novamente qual o risco. Se uma
pessoa respondesse que as chances de ter uma úlcera era de 25% e depois fosse
informada que a estatística correta é de 13%, ela tenderia a se aproximar da
realidade, atualizando o risco pessoal para algo como 15%. Já quem respondesse,
por exemplo, 5%, aumentaria pouquíssimo o risco pessoal - ou simplesmente
ignoraria a informação passada. Ao verificar imagens de ressonância magnética
do cérebro dos participantes, Sharot viu que quando a realidade era melhor que
a previsão, havia uma maior ativação de partes envolvidas no planejamento e
análise de consequências futuras. Quando a realidade era pior, essa ativação
era muito menor. Ou seja, aprendemos o que nos convém. Esse otimismo inato nos
serve por razões simples - ele nos poupa de antecipar a dor e as dificuldades
que o futuro pode trazer. Tudo maravilhoso. Mas há um problema. Isso nos faz
subestimar nossos riscos e acabar tomando decisões imensamente tolas. Pessoas
põem seu dinheiro em esquemas financeiros duvidosos e fazem sexo sem proteção,
governos subdimensionam os gastos em projetos, e bancos fazem empréstimos sem
ter a certeza de que pessoas sem renda e sem bens possam honrar suas dívidas. O
que fazer então? Usar duas ferramentas com as quais evoluímos - otimismo e
pessimismo, ao mesmo tempo. Ter um pé em cada um é o melhor para não cair em
enrascadas.
Não se reprima
Não pense em sexo. Mas, se obedecer, provavelmente você vai pensar mais ainda.
Isso porque, ao tentarmos controlar a mente, dois processos ocorrem ao mesmo
tempo, segundo Daniel Wegner, da Universidade Harvard, EUA. O operacional, que
segue a ordem, e o irônico, que inconscientemente checa se o operacional está
funcionando. O problema é que o processo operacional é limitado. Se você
estiver estressado, ele baixa a guarda e o irônico assume. E aí, pimba. Pensou
em sexo, né?
15. Seja perseverante, você conseguirá
O mecanismo básico da motivação é o circuito de
recompensas do nosso cérebro. Quando você tem uma expectativa e percebe no
ambiente algum sinal de que conseguirá esse objetivo, há uma liberação do
neurotransmissor dopamina, aquele que causa prazer. Já quando você espera algo
e não recebe, o nível de dopamina cai tremendamente - o que dá uma tristeza
forte, tal como quando você tem vontade de doces (ou de sexo, cigarro, aumento
de salário, fuçar a vida de alguém no Facebook...), mas não tem nada disso por
perto. Se você repetir para si mesmo "seja algo", o resultado será
óbvio - frustração em cima de frustração. Você não virará chefe, não
enriquecerá, não alcançará o que considera sucesso e acabará deprimido. O que
fazer então? Estabeleça pequenos passos factíveis. A cada pequeno resultado
conquistado, terá a dose necessária de motivação para dar o passo seguinte para
um objetivo maior - e realista.
16. Para de se remoer
A resposta da depressão pode estar em Darwin,
que não fazia nada em um a cada três dias desde a morte da filha. "Farei
pouco mais que me contentar em admirar os avanços dos outros", disse em
sua autobiografia. Não foi nada disso, o que se reflete na hipótese defendida
pelo psiquiatra Andy Thompson e o psicólogo evolucionista Paul Andrews. Segundo
eles, na maioria dos casos, depressão é uma resposta evolutiva engatilhada por um
problema complexo, como perder a filha. Perde-se o prazer em trivialidades que
possam atrapalhar um projeto maior. Em vez de incapacitar, o sofrimento
acelerou sua pesquisa - e Darwin chegou à teoria da evolução. E ele não é um
caso isolado. Escritores e artistas têm até dez vezes mais depressão que a
população em geral, diz a Associação Americana de Psiquiatria.
17. Ouça meu conselho
Quer ajudar alguém a tomar a melhor decisão?
Ofereça informações em vez de conselhos, concluiu um estudo da Universidade
George Manson, EUA. Psicólogos testaram em centenas de estudantes quatro tipos
de intervenções - conselhos a favor e contra uma opção, fornecimento de
informações que contribuam para a escolha, e ajuda a encontrar meios para a
decisão. Dessas estratégias, trazer informações novas foi considerado o melhor
dos métodos. Isso porque o conselho tem um lado ruim - ele faz a pessoa sentir
que perdeu um pouco de sua independência ao fazer a escolha. Já informações não
só mantêm o senso de autonomia e aumentam a confiança na escolha própria como
também trazem ajuda para decisões futuras na mesma área. Portanto, se for sair
distribuindo conselhos por aí, dê também informações a respeito, como as dessas
páginas. E, aí sim, feliz ano novo.